A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), que é definida pela presença de cinco ou mais eventos respiratórios por hora quando associados a outros sintomas, ou por 15 ou mais eventos/hora sem sintomas, apresenta uma prevalência que varia entre 5 a 30%, dependendo da população estudada. Pesquisas demonstram e confirmam que a hipóxia intermitente (HI) e a fragmentação do sono provocadas por esta condição mostram-se como importantes marcadores de gravidade.
A SAOS foi recentemente associada ao aumento do risco de câncer inicial, assim como aumento da agressividade tumoral e da mortalidade associada ao câncer.
A presença de comunicação intercelular com partículas que servem como veículos transportadores de mensagens, os exosomas, parecem desenvolver um papel crítico no prognóstico do câncer no contexto do sono perturbado.
Em novembro, a revista CHEST divulgou um artigo em que demonstra que propriedades malignas das células tumorais são reforçadas por exosomas circulantes na apneia do sono. Seu autor, Prof. Dr. David Gozal, da Universidade de Chicago, esteve presente como palestrante no XVI Congresso da Associação Brasileira do Sono e explanou seus achados.
Exosomas são pequenas vesículas que são secretadas em resposta a estímulos externos e que contêm proteínas, lipídios, mRNAs e miRNAs, e representam um importante modo de comunicação intercelular através da geração regulada e transferência de sua carga para células-alvo. São verdadeiros “mensageiros”.
No estudo, dez ratos foram submetidos à hipóxia intermitente ou ao ar ambiente. Após duas semanas, células tumorais de pulmão (TC1) foram injetadas. Após quatro semanas da injeção tumoral, os ratos foram submetidos à eutanásia para coleta de plasma e estudo dos tumores.
Para replicação do estudo, o plasma de dez indivíduos diagnosticados com SAOS foi coletado no momento zero e após seis semanas de tratamento com CPAP (Aparelho de Pressão Aérea Positiva). Além disso, para cada caso, havia um controle pareado por sexo, idade, IMC (Índice de Massa Corpórea) e raça, com seu plasma também colhido.
Os exosomas foram então isolados a partir do plasma congelado, conforme padrões pré-estabelecidos.
Os ratos expostos à HI tiveram aumento no crescimento e invasividade do tumor. Exosomas de ratos expostos à HI, mas sem injeção tumoral, também promoveram o aumento de células TC1 in vitro.
Além disso, exosomas de camundongos expostos à HI, com ou sem células TC1, induziram uma maior interrupção da integridade da barreira endotelial em comparação com exosomas de ratos submetidos ao ar ambiente.
Os exosomas plasmáticos derivados de pacientes com SAOS não tratados aumentaram in vitro a proliferação celular de HT29 (adenocarcinoma de cólon) e AsPC-1 (adenocarcinoma de pâncreas) quando comparado com os mesmos pacientes após seis semanas de tratamento com CPAP, ou mesmo quando comparado com os controles.
Foi demonstrado assim que a HI leva a uma liberação aumentada de exosomas promotores de tumores que não apenas aumentam a proliferação e migração de células tumorais, mas também perturbam a barreira endotelial, facilitando assim o potencial metastático.
O desenvolvimento de terapias geneticamente individualizadas com o controle dos “mensageiros” parece ser um futuro possível, mas ainda distante.